Personal Learning Environments (PLEs): bibliografias anotadas
No âmbito da Unidade Curricular de Processos Pedagógicos em eLearning, apresentam-se a seguir duas bibliografias anotadas cuja temática gira em torno dos Personal Learning Environments (PLEs). Foram selecionados os textos "Personal Learning Environments: concept or technology?" (Sebastian H.D. Fiedler e Terje Väljataga, publicado em 2011) e "Learning Networks in Practice" (Stephen Downes, publicado em 2007) a fim de trazer duas importantes reflexões e concepções em torno do tema.
Fiedler, S.; Väljataga, T. (2011). Personal Learning Environments: Concept or Technology?. International Journal of Virtual and Personal Learning Environments. 2. 1-11. DOI:10.4018/jvple.2011100101.
Os autores partem de uma reflexão sobre como o digital tem absorvido boa parte das atividades cotidianas e tem colocado em cheque a não separação entre o social e o institucional. Justificam, ao longo das várias conceitualizações, que pessoas com diferentes identidades e profissões enxergam os Personal Learning Environments (PLEs) sob diferentes perspectivas, algumas como conceito, outras como tecnologia. Realizam, então, uma análise sobre essas duas concepções: os PLEs vistos como conceito são encarados como novas abordagens para se utilizar tecnologias para a aprendizagem em oposição aos LMS (Learning Management Systems), já que esses são considerados insuficientes para atender a todas as necessidades educativas. O objetivo do PLE é, então, compartilhar o trabalho entre designer e aluno, combinando dispositivos, aplicações e serviços. Já a abordagem do PLE enquanto tecnologia traz aspectos intrinsecamente ligados à Web 2.0, aos web services, à interoperabilidade entre serviços e à necessidade de uma arquitetura de computador robusta alinhada a poderosos mecanismos de busca.
Contudo, tal estudo traz uma importante reflexão que objetiva tornar possível a compreensão dos Personal Learning Environments além da Web 2.0. O autor reconhece que ainda falta teorizar muito sobre os PLEs, mas resumi-los somente à tecnologia não é o caminho pois elas são frequentemente substituídas por suas equivalentes funcionais à medida que o tempo passa. O que se deve ter em conta, então, é a reconfiguração das atividades de ensino de modo que o indivíduo possa modelar e se responsabilizar por suas aprendizagens nos seus diferentes ambientes. Desse modo, é possível integrar contextos formais com informais, remover barreiras para uso e combinação de diversas ferramentas e serviços, integrar as atividades com aspectos gerais da vida dos indivíduos e facilitar a co-criação e a colaboração, pilares do e-learning. É preciso lembrar, por fim, que apenas coletar recursos não faz um PLE: é preciso haver um modelo pessoal, intencional, atualizado e organizado de aprendizagem.
Downes, S. (2007). Learning Networks in Practice. In: Ley, D. Emerging Technologies for Learning. National Research Council of Canada. https://nrc-publications.canada.ca/eng/view/accepted/?id=fa5f5f4d-b6c8-4dac-ab6e-49b75570f988
Downes traz uma perspectiva dos Personal Learning Environments (PLEs) como uma interface padrão para diferentes sistemas de aprendizagem de diferentes instituições. São, assim, multidisciplinares e passam o controle das mãos das instituições para as mãos dos estudantes ao fomentar as comunidades virtuais, as redes sociais, a ênfase na criação e não no conteúdo. O autor traz essa reflexão ao constatar que a internet não deve ser considerada um espaço de consumo de conteúdo, pois isso incentiva a memorização e a criação de sistemas que agregam esse conteúdo de mantém controle sobre ele (LMS), dando pouca liberdade de escolha e seleção para o indivíduo que aprende. Compreende, então, que é preciso que a aprendizagem se baseie mais no diálogo do que na instrução, mais nas tentativas, erros e acertos e ações do que em conhecimento abstrato, mais na criação e utilização de tecnologias e redes que suportam essa aprendizagem (e também aprendem) do que em emulações da sala de aula tradicional.
O trabalho de Downes traz uma grande contribuição ao destacar a importância de compreender que e-learning não se resume a publicar artefatos na internet acompanhados de um quiz, pois isso não empodera ninguém. Aprender online é diferente de simplesmente fazer um curso online. Aprender é participar de comunidades, promover a conversação entre seus membros, utilizar-se das potencialidades da Web 2.0 utilizando as ferramentas de comunicação como ferramentas de criação de conteúdo. O incentivo ao uso dos PLEs baseia-se, assim, na concepção de que as pessoas hoje consideram como restrição a criação e a disponibilização de recursos em um único ambiente fechado. Então, um PLE torna-se uma ferramenta que permite engajar qualquer indivíduo nesse ambiente distribuído formado por uma rede de pessoas, serviços e recursos dotados de diversidade, autonomia, conectividade e abertura.
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