O papel do professor online - Bibliografias anotadas
Kalimullina, O., Tarman, B. and Stepanova, I. (2020). Education in the Context of Digitalization and Culture: Evolution of the Teacher's Role, Pre-pandemic Overview. Journal of Ethnic and Cultural Studies, 8(1), pp.226-238. Disponível em: http://www.ejecs.org/index.php/JECS/article/view/629
Os objetivos do presente estudo, realizado logo antes do início da pandemia da COVID-19, foi analisar como e se o papel do professor tem mudado no contexto digital, bem como analisar a influência dos professores no processo de aprendizagem com o uso de tecnologias, por meio de três abordagens diferentes, e como essas próprias tecnologias influenciam professores e estudantes. Como método, realizaram uma revisão de literatura de artigos publicados entre 2015 e 2019 cuja temática aborda o papel do professor nos contextos educativos digitais. Em seguida, analisaram três abordagens online: os Ambientes Modulares de Aprendizagem Digital (onde identificaram que o professor tem um papel mais clássico, escolhendo ferramentas, criando módulos de aprendizagem e exames), os MOOC (Massive Open Online Courses, cuja figura do professor é totalmente ausente) e os LMS (Learning Management Systems, cujo papel do professor é de intermediador, facilitador na escolha, realização e design das ferramentas educativas disponíveis).
Nessa análise, os autores partiram do pressuposto de que a digitalização dos processos conduz à globalização. Então, estabeleceram uma reflexão sobre como o capitalismo e a industrialização trarão um cenário de automação cada vez maior no qual as tecnologias ocuparão cada vez mais espaço na sociedade, inclusive na educação, o que traz tanto oportunidades quanto desafios para os seus atores. Concluíram, portanto, que o papel do professor não tem apresentado tantas mudanças em relação ao seu papel na educação presencial, sendo necessária cada vez mais uma melhoria em sua literacia digital para corresponder a esse novo cenário social. Como grande contributo, trazem uma conclusão de que os ambientes educacionais digitais não funcionam bem sem o professor, e que seu papel muda de acordo com as diferentes abordagens virtuais, mas que a sua personalidade é fator imprescindível para o aluno, tanto antes quanto durante a pandemia. Essa observação é relevante, por exemplo, ao identificar que cerca de somente uma pequena porção de alunos matriculados em MOOC complementam a sua formação e que a presença social do professor junto aos alunos é fator-chave para uma assimilação efetiva da aprendizagem, daí o reforço do papel orientador, mediador, facilitador e social do professor nos contextos online.
TEXTO 2
Lencastre, J. (2017). Educação on-line: desenhar um curso híbrido centrado no estudante. In: H. Felício, C. Silva & A. Mariano, Dimensões dos Processos Educacionais: Da Epistemologia à Profissionalidade Docente. Curitiba: CRV, pp.209-223. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/47045
José Alberto Lencastre, ao discutir os princípios de design de um curso híbrido neste capítulo, define o papel do professor, sobretudo online, como um verdadeiro designer, um papel exigente que envolve criar oportunidades e ambientes que promovam a aprendizagem personalizada e colaborativa. O autor usa dois modelos de aprendizagem ativa para exemplificar esse papel. O primeiro é a Aprendizagem Invertida, na qual define que o professor é determinante pois é quem cria as oportunidades tanto individuais quanto colaborativas, reorganiza os espaços de aprendizagem, fornece flexibilidade e liberdade, atua como orientador (e não transmissor), diz quais recursos o estudante deve utilizar por conta própria (autonomia), otimiza o tempo presencial e dá feedback constante e relevante. O segundo exemplo é a Aprendizagem Baseada em Problemas, na qual o professor desenha cenários/narrativas, cria problemas reais para serem resolvidos pelo estudante, incentiva interação e desenvolvimento de competências sociais ao criar um senso de comunidade.
O texto desenvolvido pelo autor destaca, sobretudo, como a presença social do professor no ambiente online no acompanhamento do estudante é diretamente proporcional à sua motivação para aprender. Nesse viés, o professor torna-se incentivador da presença social e da autonomia dos estudantes - ao deixar que façam a maior parte do trabalho - e estimulador da interatividade ao acompanhar e redirecionar as discussões. Outro destaque do texto são os exemplos dados pelo autor, sendo um deles sobre como dar essa autonomia ao estudante: o professor pode iniciar uma discussão em fórum no qual peça que os alunos acedam a um site e depois iniciem a conversa por si mesmos, criando os próprios caminhos da discussão - com o professor realizando as devidas intervenções e dando feedback constante. Assim, Lencastre define não só o papel do professor nos contextos online, mas também os reais objetivos de um modelo híbrido de aprendizagem, que são: excluir fraquezas de ambas as modalidades, associar comunicação síncrona com a assíncrona e aumentar a participação do aluno na construção de seu próprio conhecimento com colaboratividade e criticidade. Conclui reafirmando a tese de que o professor deve atuar como designer educacional e ser promotor da presença social nos ambientes virtuais, o que constituem fatores essenciais para a permanência dos estudantes nos cursos.
Reflexão e outras considerações
Enquanto Kalimullina, Tarman e Stepanova (2020), ao iniciarem um estudo pré-pandemia e depararem-se com um mundo pandêmico em 2020, não vêm tantas diferenças no papel do professor online em relação à sua atuação presencial, Lencastre (2017) posiciona o professor como designer educacional e motivador social nesse contexto. As duas ideias, embora a princípio pareçam exclusivas, são complementares já que defendem o uso de diversas pedagogias e não se limitam a discussões em torno apenas da modalidade de ensino e dos enganos comuns quanto ao conceito de presencialidade. Ambas, inclusive, concordam com o papel social do professor que se acentua ainda mais nos contextos online.
Sobre isso, para convergir numa terceira análise, Song, Kim e Park (2019) abordaram um tema pouco presente nos estudos, o que chamam de “self-disclosure” (auto-revelação, em tradução livre) do professor na educação online. Os autores defendem que existe uma relação diretamente proporcional entre a presença social do professor e a aprendizagem dos estudantes, o que se manifesta no quanto o professor revela de si mesmo nessa construção de relações no ambiente digital. Discutem, dessa forma, o conceito de presencialidade: embora não haja presença física, é possível que o estudante sinta o professor presente (e seus pares, inclusive) por meio de ações que promovam a interatividade e sociabilidade. Assim, é possível existir, estar presente e provocar essa sensação mesmo estando online. O estudo, ainda em continuidade, pretende verificar se a self-disclosure pode ser avaliada como uma variável separada nessas situações.
Song, H.; Kim, J.; Park, Namkee (2019) I Know My Professor: Teacher Self-Disclosure in Online Education and a Mediating Role of Social Presence, International Journal of Human–Computer Interaction, 35:6, 448-455. Disponível em: https://doi.org/10.1080/10447318.2018.1455126
Interessante a escolha dos artigos.
ResponderExcluirO segundo foca o papel mediador do professor, que não pode possuir apenas competências próprias dos docentes, mas que também deve manifestar competências sociais que se manifestam. Mendonça, em 2007, já referia essa necessidade de adequação das abordagens pedagógicas, uma vez que o modus operandi nas diferentes modalidades de ensino (presencial, a distância e online) são necessariamente diferentes.
Contudo, o primeiro artigo, de 2020, conclui, no entanto, que "o papel do professor não tem apresentado tantas mudanças em relação ao seu papel na educação presencial, sendo necessária cada vez mais uma melhoria em sua literacia digital para corresponder a esse novo cenário social".
Mais de 10 anos se passaram entre o artigo de Mendonça e o estudo de Kalimullina, Tarman e Stepanova e parece que muito pouco mudou. Ainda há um longo caminho a percorrer.
Esperemos que nos, os que nos antecederam, e os que nos sucedam nesta experiência do MPeL tenhamos oportunidade de contribuir para alterar estes paradigmas.
Cumprimentos,
Joana Cunha
Referências:
Mendonça, A. F. Docência Online: A virtualização do ensino (2007). Acedido a 19/04/2021, em http://www.abed.org.br/congresso2007/tc/552007112719PM.pdf.
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Olá, Joana!
ExcluirObrigado pelo seu comentário! A escolha dos artigos precedeu justamente essas duas questões, duas visões um pouco diferentes, sendo uma que busca nos dizer que, como bem disse, "ainda há um longo caminho a percorrer". A oportunidade de conhecer e debater essas questões é uma experiência que certamente nos preparará para percorrer mais uma parte desse caminho!
Abraços!
Bom dia Jardel!
ResponderExcluirO texto 2 destaca o papel moderador do professor online.
Até breve,
Filipe Couto